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O FUTURO DA SAÚDE COM A MEDICINA PERSONALIZADA
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Uma saúde pensada individualmente com tratamentos voltados para cada patologia e para cada ser humano. Esta é a bandeira defendida pela medicina personalizada, em fase de implantação no Brasil, que busca a cura através dos perfis gené- ticos do ser humano. Com o avanço da tecnologia no país, o tema entra em debate para os impactos econômicos e estruturais de uma medicina cada vez mais precisa e preventiva. Um evento, realizado em 13 de novembro na IT Mídia, reuniu especialistas e gestores da saúde para discutir o assunto. O genoma humano determina a formação do nosso corpo e a diferença entre cada ser humano. Embora uma doença, para se manifestar, geralmente necessite da interação entre agentes externos e a predisposição do indivíduo, um genoma mapeado pode revelar quais são as doenças que podem acometê-lo, e quais tratamentos seriam, de fato, mais eficazes e menos danosos, assim como no recente caso da atriz Angelina Jolie que, após um sequenciamento genético, descobriu a alta probabilidade dos cânceres de mama e ovário e iniciou a ação preventiva com uma mastectomia. Atualmente, segundo a geneticista e professora da Universidade de Campinas (Unicamp), Iscia Lopes, o Brasil conta com menos de trezentos médicos com títulos de especialista em genética, o que pode ser um fator complicado para o futuro da medicina especializada. “Um olhar sobre o indivíduo, baseado em estatísticas ao invés de se basear em uma doença e milhares de testes para seu tratamento, faz com que tenhamos um atendimento humanizado e único, no entanto, um dos maiores problemas pode ser a interpretação dos exames pelo médico, uma vez que hoje o grupo de geneticistas é pequeno e muitos deles ainda se confundem na hora de transmitir a mensagem correta ao paciente, o que pode causar um desconforto ao invés de se mostrar como solução”, explicou. Outra preocupação da professora refere-se ao ensino aplicado na área médica. “Hoje os médicos são treinados para atender um paciente que não existe. Prescrevemos drogas baseadas na média da população e sempre lidamos com reações adversas para, somente depois, pensarmos na interferência do fator genético”. Os debatedores defenderam uma reforma na formação médica profissional. “Faculdades não preparam profissionais para a medicina do futuro. Apesar de essa mudança ser necessá- ria, ela também deve ser cautelosa”, prosseguiu Iscia. “Um médico mal preparado pode causar um enorme estrago, não só para o paciente como também para o sistema de saúde”. Líder do Projeto Genoma Humano no Brasil, iniciado no ano de 1990 e finalizado em 2003, a Unicamp gastou aproximadamente 2 bilhões de dólares ao longo de 13 anos do sequenciamento genético em busca do perfil humano. Além disso, a partir de janeiro de 2014, foram inclusos no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar 29 testes genéticos cujo reembolso deve ser efetuado pelos planos de saúde para o usuário solicitante. O custo do DNA na medicina personalizada é uma das principais preocupações de gestores e planos de saúde para habilitar os novos exames, como afirmou Sérgio Ricardo, diretor executivo da One Health. “Apesar de os impactos gerais de um exame genético serem menores do que a quimioterapia oral, ainda nos preocupa os valores aplicados para a nova tecnologia. Neste ano vimos a inclusão deste tipo de procedimento no rol da ANS, mas é preciso uma força-tarefa das operadoras para ampliação do grupo de prestadores e a democratização deste processo para trazer a redução dos custos e um impacto global quase sem danos”. De opinião similar, Mônica Castro, gerente executiva de relacionamentos institucionais da Hermes Pardini, ressaltou a importância das diretrizes clínicas citadas pela ANS na hora do profissional solicitar o novo procedimento. “Os exames genéticos estão se tornando cada vez mais acessíveis na saúde suplementar e vemos que já existem casos, como os de câncer, nos quais os perfis genéticos se tornam fundamentais para a escolha correta do tratamento ao paciente.

As diretrizes são fundamentais para orientar o médico sobre em quais situações pedir o exame, como os encaixes de parentesco e o histó- rico familiar de quem se torna solicitante. Isso certamente já evita pedidos e custos desnecessários”. As doenças crônicas são o primeiro teste para a genética no Brasil, derivando a farmacogenética, ou seja, o tratamento medicamentoso aplicado de acordo com as características de cada indivíduo, sem testes, como explicou Roberto Mendes, presidente da Thermo Fischer. “Certamente, veremos nos próximos anos a revolução da saúde como um todo e a ANS veio para somar neste fator. Cabe a nós fiscalizarmos se as diretrizes estão sendo cumpridas de forma correta e evitar a judicialização no sistema, que em 95% acaba sendo pró-solicitante”. “Toda a área de estudo de DNA promove uma revolução na área de saúde e esta será uma como poucas vezes vimos”, afirmou Yussif Ali Mere Jr, presidente do SINDHOSP e da FEHOESP, presente no evento. “A medicina personalizada é o grande desafio do futuro, porque ela pode provocar duas mudanças. Uma é redução de custos e, a outra, é um tratamento melhor para o paciente. Estamos em fase inicial de conseguir colocar o resultado das pesquisas científicas a serviço da população, em um aumento em ritmo exponencial, mas certamente vemos uma medida importante para disseminar a tecnologia para a população como um todo”, disse. Outro ponto chave do debate foi a necessidade da uniformização de informações no sistema de saúde e como a tecnologia pode ser uma grande aliada neste processo. Para Mendes, o Brasil ainda engatinha nesta área e o destaque fica para as redes próprias. “Quando falamos da atenção ao beneficiário precisamos ir além. A tecnologia está aí, mas não conseguimos ao menos uniformizar a informação para que não haja, por exemplo, repetições de procedimentos médicos em um mesmo prontuário. Ainda há consultórios que operam com papéis na era da inovação. A informação pertence ao paciente e não à operadora de saúde, portanto, porque não uniformizar?”. Os modelos assistenciais também entraram em discussão do público x privado. “No SUS temos um modelo definido, mas a saúde não funciona. Na saúde suplementar, não temos um modelo, mas ela funciona. Os custos são crescentes e em paralelo corre a medicina personalizada. Em algum momento elas vão se cruzar e a partir daí, precisaremos estar preparados para agir”, disse Yussif. “Neste momento é fundamental o investimento do governo para as pesquisas clínicas e científicas que corroborem para o desenvolvimento da saúde, além do pensar em um modelo de atendimento que realmente funcione”, completou Mendes.

 

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